Escrever-te sobre o que é para mim o yoga é uma grande responsabilidade, já que se trata da partilha da minha visão e como viver sobre a sua filosofia na minha interpretação e experiência própria. Por isso, já comecei, apaguei e recomecei várias vezes este parágrafo. Não porque me seja difícil transmitir a mensagem que gostava de te passar, mas porque receio que palavras não sejam suficientes para o fazer. Porque, para mim, o yoga é sentido. Mas tentarei.
No ocidente, a prática de yoga é geralmente associada ao tapete, mas, na realidade, vai muito para além dele. Seres praticante é viveres com o teu yoga no dia. Yoga há só um, mas digo “meu yoga” ou “teu yoga” porque a interpretação dele é única a cada um, os benefícios que retiramos são diferentes de mim para ti e, de todas as práticas e filosofia, vais (e deves) trazer contigo apenas aquelas que te servem e te fazem sentido.
Mesmo a prática no tapete não se reduz apenas aos asanas (as posturas psicofísicas). O tapete pode servir como a tua âncora, o teu porto seguro onde te podes apenas sentar, deitar, onde te moves, respiras, meditas, desafias, escreves, suas, relaxas. O teu tapete não precisa ser associado à prática física do yoga, mas a um espaço onde marcas encontro contigo, onde apareces espontaneamente para te conectares, por onde passas para pensar ou onde ficas a relaxar.
A minha prática pessoal de yoga é diária. Contudo, nem sempre acontece no tapete. Na verdade, apesar de tudo o que o tapete significa para mim, a prática acontece muito mais fora dele do que dentro. Parece estranho, não? É que o yoga é uma forma de estares contigo, com o que e quem te rodeia, como falas, como lidas com as tua emoções, pensamentos e, sim, até como respiras. Mas acima de tudo, com a prática e ensinamentos, esta presença do yoga no teu dia a dia acaba por te ser natural. E agradeço todos os dias por estar na minha vida.
Então, em que se traduz esse viveres o teu yoga fora do tapete?
Deixo-te aqui 10 práticas (mas há muitas mais de onde estas vieram):
Respiração consciente, a forma como encaras a respiração, não como apenas algo automático que o teu corpo faz para que sobrevivas, mas como algo precioso que utilizas de forma intencional e consciente para te regulares e cuidares do teu bem-estar emocional, mental e mesmo físico.
Gratidão, a prática que te recorda tudo aquilo que és, tens e alcançaste, que te faz seguir o dia com humildade e contentamento. Abundância em vez de escassez.
Movimento, a fluidez que mantém a tua energia a circular, que previne a estagnação, os bloqueios e cura…uma caminhada, um espreguiçar ou uma dança.
Autoestudo, a reflexão através do journaling ou meditação, a conexão e compreensão do Eu.
Autocuidado, esta prática de amor-próprio, dedicar tempo a mimar o nosso corpo (que é a nossa casa), a nossa higiene, a nossa nutrição, cuidar da nossa saúde mental e nutrir a nossa alma.
Autorregulação, aprender e utilizar as ferramentas que ajudam a gerir os nossos níveis de energia, ansiedade, stress e humor, consoante o momento do dia e atividade que realizamos.
Comunicação, a forma como falamos e nos relacionamos com os outros e com o mundo, a autenticidade e o modo como expressamos a nossa verdade.
Sankalpa, a nossa intenção, o nosso porquê. Podemos definir o sankalpa do nosso dia, ou do nosso mês, a intenção de uma reunião ou encontro ou o porquê de fazermos algo. Viver intencionalmente é viver com sankalpa.
Presença, a prática de mindfulness no dia a dia, tempo de qualidade, ouvir alguém plenamente, olhar nos olhos, saborear plenamente uma chávena de chá ou estar completamente presente num abraço.
Resiliência - a forma como encaramos os desafios que nos surgem no caminho ou aqueles de que vamos ao encontro, como lidamos com a adversidade e regressamos da sua superação ou recuperamos de uma derrota.
Todas estas valências se aprendem também no tapete, com um guia com a devida formação, através do estudo, mas a prática dos ensinamentos segue fora do tapete, no dia a dia.
Começa por seres gentil contigo, pratica a presença, move-te, descansa, faz refeições nutritivas, agradece, aprecia as pequenas coisas.
Inspira profundamente…Expira lentamente.
Com carinho,
Si