Já te sentiste com aquela espécie de ressaca emocional de quando terminas um projeto, um evento, uma mudança? Aquele vazio estranho de teres terminado uma experiência de impacto em ti e, talvez, aquela vontade de logo avançar para a próxima coisa? Preencher esse vazio o mais rapidamente possível?
Quando termino um projeto criativo que exigiu muito empenho e tempo de mim, quando termino de ler um bom livro, ou de ver aquela série que adorei…tenho aquela sensação de “E agora?”. O impulso é avançar logo para o próximo projeto, começar a pesquisar o próximo livro que vou ler.
Contudo, esta tendência de produtividade ou “preenchimento” constante faz-nos esquecer, tantas vezes, a importância de deixarmos assentar, de integrar a experiência que vivenciamos, seja ela qual for.
Terminei, este fim de semana, uma formação na área do Yoga onde exploramos o tema da linguagem do nosso corpo (como aluna). Foram alguns meses de formação com teoria e muita prática. Foi preciso, claro, reservar horas de estudo, em cada semana, e dedicar-me aos trabalhos que tínhamos para concluir. Mas a parte desta formação que mais me deixou com aquela necessidade de processar foi a prática. Sinto que o meu corpo precisa digerir melhor essas práticas, refletir sobre o que me trouxeram e integrar a experiência de diferentes formas. Preciso de tempo.
Muitas vezes, só após alguns dias ou semanas sentimos o impacto de uma experiência em nós. E processar essa informação é imensamente importante, não só para o nosso autoconhecimento, mas também para percebermos com mais clareza o próximo passo a dar. Precipitarmo-nos para o próximo passo pode ser devastador. Deixar a poeira assentar, digerir é tão importante como criar, experienciar.
Este processo de integração que vem depois de um evento com impacto em nós, seja pequeno ou grande, é geralmente saltado. Porque o repouso é um luxo ineficiente, porque parar é morrer e para a frente é que é o caminho. Tudo mitos que têm vindo, felizmente, a ser desconstruídos nos últimos anos. Este digerir é essencial e frequentemente esquecido.
Num mundo tão acelerado como o que vivemos, este parar pode trazer inquietação, reforçar até a sensação de vazio cá dentro ou mesmo. Mas desta vez, não me vou inscrever já num próximo curso. Alías, esta foi a última formação que fiz em 2025 e vou dar o resto do ano para assimilar tudo o que aprendi, praticar, observar o impacto e ir aplicando com intencionalidade ao meu dia a dia e às práticas que facilito.
Nem sempre foi assim para mim. Avançar de cabeça logo para o projeto seguinte era o meu moto. “Depois de lá estar, desenrasco-me”. Mas apesar da tendência para preencher este vazio não ter desaparecido por completo, reconheço, hoje, o valor desta pausa para digerir. Faz-me aproveitar muito mais o impacto de cada experiência, retirar muito mais delas e seguir com intencionalidade para o passo seguinte.
A integração é isso mesmo. Aquele espaço entre um fim e um novo começo. é darmos tempo para que o nosso corpo, a nossa mente e as nossas emoções processem o que aconteceu antes do próximo desafio. Não é um “parar porque sim” , mas um permitir que o sentido dessa experiência se revele, a aprendizagem assente e a transformação se torne real.
Sabias que o relaxamento ou momento final de uma aula de yoga é, em grande parte, o reservar espaço para esta integração? Claro que isto parece exagerado quando falamos de terminar um livro (o que muitas vezes nem é!), mas quando falamos de terminar um grande projeto, uma viagem ou um ciclo da nossa vida, esta integração é essencial.
E de que formas podemos dar espaço para esta integração acontecer? Deixo-te aqui algumas sugestões:
Fazer uma caminhada ao ar livre, sem podcasts ou música - o corpo em movimento ajuda a nossa mente a reorganizar as coisas sozinha;
Conversar com amigos - por vezes, só ao tentarmos explicar a experiência a alguém é que nos percebemos o que ela significou de verdade;
Escrever sem objetivo no teu journal - o que sentiste, o que aprendeste, o que te surpreendeu;
Se gostas de arte ou expressão criativa, podes desenhar, pintar, dançar, o que for - o corpo e a criatividade têm acesso a partes da experiência que a mente racional nem sempre alcança;
Passar uns tempos em “modo observador” - tenta não decidir nada nem fazer grandes planos, apenas observar como te sentes, o que vai surgindo;
Apostar em boas noites de sono, porque dormir é integrar - o descanso é tantas vezes subestimado, mas o nosso cérebro precisa de tempo para reorganizar e arquivar tudo;
Fazer algo que te traga ao momento presente - praticar yoga, tomar um banho quente, alongamentos, massagem, jardinagem;
Fazer um mini ritual de encerramento - algo simbólico como acender uma vela, arrumar objetos ligados a esse projeto ou experiência, escrever uma carta (que nem precisas enviar), apenas para marcar o fim de um ciclo.
Isto ressoa contigo? Espero que esta carta te traga algo para refletir e quem sabe implementar.
Uma linda semana para ti.
Com carinho,
Si