No outro dia, escrevia no meu journal sobre sonhos, desafios, projetos, rotinas… Adoro explorar estes temas por forma a libertar a minha mente, organizar ideias e conhecer-me melhor. Mas, quando cheguei à parte em que a sugestão era escrever sobre os meus medos, bloqueei. Não é que não tivesse algo sobre o que escrever (acredita que tenho!), mas senti uma certa resistência interna.
Estava tão entusiasmada a refletir sobre todos os outros temas que, escrever sobre o medo, seria como um grande balde de água fria (já para não falar que iria destoar no meu lindo journal). Não consegui escrever sobre os meus medos naquele dia, nem nos dias seguintes. Bloqueio e negação total. Avancei essas páginas durante algum tempo, confesso.
Contudo, os assuntos menos agradáveis do nosso processo de autoconhecimento são tão ou mais importantes de explorar, compreender e quem sabe superar. E o medo é uma emoção básica do ser humano, bastante desagradável, acho que concordamos nisso, por vezes bastante intensa e que nos pode fazer sentir ansiosos, incapazes ou , até, construir muros à nossa volta.
Dependendo da intensidade desse medo, podemos reagir de diferentes formas, tais como lutar, fugir ou congelar. No meu caso, o medo do medo, eu estava, claramente, na fuga. Felizmente, não corri muito longe.
Enquanto fazia alguma pesquisa sobre o tema, li um artigo com o qual concordo apenas (muito) parcialmente, mas achei interessante partilhar contigo este excerto.
“Se o teu medo é sobre o inexistente, ele é cem por cento imaginário. Se estás a sofrer o não-existencial, chamamos isso de insanidade.”
Sadhguru
Por um lado, é verdade que o medo pode ser uma emoção causada pela antecipação e, neste caso, algo que ainda não aconteceu (e pode nunca vir a acontecer). Portanto, imaginário. Aqui, não estamos no presente, na nossa realidade. Mas isso não impede que o sintamos, de verdade. Por outro lado, o medo é um instinto básico de sobrevivência, programado no nosso sistema nervoso, para nos proteger de situações perigosas, que podem ser bem reais, ou situações que nos fazem sentir inseguros.
Então, o medo pode salvar as nossas vidas, levando o nosso corpo a reagir em nossa defesa sem que precisemos de pensar.
Desagradável ou não, vale, assim, a pena explorarmos os nossos medos. Até porque uma das formas de explorarmos a nossa autoconsciência (o meu tema querido) é sair da zona de conforto e para mim seria enfrentar o medo. Não só enfrentá-lo ou superá-lo, mas reconhecê-lo, assumi-lo e compreendê-lo. Então, decidi enfrentar essas páginas e escrever sobre o medo.
Afinal não eram assim tão assustadoras. Se foi agradável? Não, confesso. Mas depois de os desmitificar e reduzir ao que realmente são e representam, senti-me mais forte e em controlo. E como mais vale cedo do que tarde, voltei ao meu journal, às páginas sobre o medo, inspirei fundo, expirei lentamente, e enfrentei as perguntas.
A primeira pergunta para refletir era sobre o custo do medo na nossa vida. Se eu ouvisse e cedesse aos meus medos o que aconteceria em 1 mês, 1 ano, 5 anos ou até 10? Escrevi sobre o impacto que ficar no medo teria em mim e na vida que desejo viver e o pior que podia acontecer se os ignorasse. Este exercício faz-te ver que muitos dos medos que vêm da antecipação nos bloqueiam de sermos autênticos e vivermos a nossa vida em pleno. Quando escreves sobre o pior que podia acontecer e te questionas se, mesmo assim, serias capaz de dar a volta…a resposta é muitas vezes “sim”. Então, nesses casos, porque não arriscar?
Então, saí da zona de conforto. Como sabes, vem aí o lançamento do primeiro episódio do meu podcast e, apesar de ter sido surpreendentemente natural escrevê-lo e gravá-lo, o que mais me custou foi o passar do sonho à ação. Desconstruir aquela vozinha interna que te agarra o casaco enquanto tentas caminhar em frente. Desta vez, escolhi tirar o casaco e avançar.
E passei do medo a uma sensação de conquista. Não uma conquista exterior, mas uma conquista interna. Independentemente de como será acolhido o meu podcast pelo mundo exterior, por ti, o mais gratificante foi o criar o conteúdo que considero importante, a sensação de partilha, o orgulho próprio de ter terminado o projeto que foi um dia apenas um desejo e, por fim, o prazer que foi criá-lo.
Estaria a mentir se te dissesse que não quero saber se gostas ou se ouves o meu podcast! Claro que me importo. É o meu trabalho e o valor que representa para quem o recebe. O apoio que recebo pelo meu trabalho por parte da comunidade é, obviamente, importante para mim, mas é em situações como esta que oiço aquela expressão que nos diz que não é a meta que conta, mas o processo para lá chegar. E é tão verdade! É o sonhar, é o superar o medo do medo e o próprio medo ou outros bloqueios, é o que cresces ao fazê-lo, é o processo criativo e a sensação de missão cumprida.
E tu? De que tens medo?
O que te impede de o ultrapassar?
Qual o pior que podia acontecer se avançasses? E o que de bom poderá acontecer se o superares?
Força! Acredita em ti.
Com carinho,
Sí
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