Há umas semanas esta Newsletter completou um ano! Sem dúvida uma boa oportunidade para fazer um balanço, não achas?
AVISO: Esta carta é um pouco mais longa que as anteriores, será relatada uma série de infortúnios e vai apetecer-te sacudir a protagonista pelos ombros. Mas tudo fica bem! (desculpa o spoiler) Vamos falar de burnout. Se estiveres a passar ou passado uma situação semelhante…não estás sozinha/o!
Quando comecei a escrever e publicar estas cartas, eu sabia o que procurava. Uma vida mais intencional e autêntica, viver e expressar-me sem filtros. E Inspirar-te! Queria também partilhar contigo ferramentas testadas, diferentes abordagens relacionadas com aquilo que me nutre e o que realmente me faz sentido. Hobbies, rituais, práticas, rotinas…
Todas essas experiências, as que foram e as que ficaram, foram válidas e contribuíram de diversas formas para o meu desenvolvimento durantes os últimos anos. Mas, geralmente, quando procuramos algo pensamos que ao acrescentar “mais” à nossa vida o iremos alcançar. Mais estrutura, mais organização, mais exercício, ler mais livros sobre o tema, mais, mais, mais. Contudo, as nossas vidas são já bastante preenchidas e “mais” pode ser catastrófico, mesmo que faça sentido ao caminho que queres percorrer. Então, antes de adicionares algo bom, questiona-te se há algo que já não te serve e que podes deixar ir. Criar espaço para algo melhor.
Recuando alguns anos nesta minha jornada, durante muito tempo, o meu corpo e a minha mente (suspeito que eles tinham um estratagema montado) foram-me dando sinais de que eu precisava abrandar. A tal sabedoria interior. E já que eu ignorava o meu cansaço e continuava a mil a cumprir todas as tarefas e responsabilidades da vida moderna, os sinais começaram a ser mais óbvios. Nas alturas de mais trabalho na minha carreira corporativa, surgiam os sintomas estranhos, dores de costas incapacitantes, tosses fortes inexplicáveis, memória traiçoeira... Mas a questão era tratada e eu seguia em frente. A vida profissional corria bem, afinal de contas.
Nas alturas mais desafiantes na vida familiar, um marido, dois filhos pequenos e um cão, surgiam dores de cabeça fortes, mudanças repentinas de humor, noites mal dormidas (felizmente não tudo ao mesmo tempo!) e um mar de outros sinais que euzinha resolvi não escutar. “Tu consegues!” Soa-te familiar? A questão é ”até quando?”.
O acumular de cansaço e uma tendência para exceder expectativas começaram a entrar em choque. Precisava viver de forma diferente para manter uma vida saudável e equilibrada. Porque separar a vida profissional, a vida familiar e a minha vida pessoal não me fazia mais sentido. Afinal de contas era a minha vida, só uma!
Comecei, então, a desenhar uma vida alternativa. Graças aos muitos livros que fui lendo, comecei a questionar-me como seria uma vida intencional para mim, um dia a dia mais equilibrado e em concordância com os meus valores, propósito e sonhos. Anos de prática de Yoga e journaling ajudaram-me a manter-me à tona.
Em 2019, formei-me como professora de Yoga, mais tarde como Terapeuta de Thai Yoga massagem e professora de Meditação. De inicio, a intenção de fazer estas formações era prática e crescimento pessoal. Mas rapidamente senti que queria partilhar os benefícios que experienciei em mim e as valiosas ferramentas que fui aprendendo. Comecei, então, a facilitar as primeiras práticas. Mas a carreira corporativa continuava em paralelo a todo o vapor.
Já estás a ver o problema! Mais, mais, mais…e eu precisava de menos, menos, menos. Quem nunca?
Não desisti de procurar reformular a minha vida para que fosse realmente minha. Muitas mudanças intencionais foram feitas, mas só quando o covid e os sintomas fortes que senti me obrigaram a parar mesmo e a deitar, é que o limite das minhas reservas se começaram a revelar. Lembro-me de mesmo aí não querer parar. “Os meus dedos ainda funcionam”, disse na altura. (é aqui que me apetece sacudir-me pelos ombros, a ti não?) Mas fui forçada a parar. E como precisava daquele momento!
Mas a vida continuou, as mudanças feitas não eram suficientes e vi o limite. Eventualmente, o burnout passou a fazer parte dos meus dias, não apenas como área de estudo, mas como realidade dura. Deixei de escrever aqui, de tolerar mais do que apenas o essencial e uma transformação profunda começava. Foi uma das melhores piores coisas que vivi.
Risquei tudo da minha agenda e fui adicionando apenas o necessário. Como já escrevi em cartas anteriores, é um exercício constante. Trabalhei na minha cura e redesenhei a minha vida. Ficarei eternamente grata ao apoio da minha família, profissionais de saúde e círculo chegado que esteve comigo nessa fase. Verdadeiramente grata pelos desafios da vida que me conduziram até aqui e grata a mim, claro.
Se podia ter transformado a minha vida uns cinco anos antes? Se calhar até podia. Mas não acredito em saltar dois degraus de cada vez. Todos foram necessários para o meu desenvolvimento em todas as áreas da vida e não poderia chegar aqui por atalhos.
Então, sim, há um “antes” e um “depois”. E é neste “depois” que vivo agora, com maior autoconsciência e um propósito claro. A carreira corporativa de 16 anos ficou conscientemente no “antes”, bem como a agenda lotada e o multitasking. O meu mantra…uma coisa de cada vez.
No “depois” há conexão, sustentabilidade e presença. Há o caminhar consciente, atenta, escutar e adaptar, aplicar o que aprendi, no momento certo. Há a partilha de ferramentas úteis com quem me rodeia ou me procura, nas minhas aulas, terapias e até aqui.
Se me lês, já sabes como o “porquê” é importante para mim. Então, porque partilho este pedaço da minha história? Porque não precisamos cair todos. Quem cai e se levanta pode humildemente alertar os outros, ajudar a evitar a queda, ou a ultrapassá-la. Compaixão, respeito pelo degrau em que se encontra o outro, empatia e generosidade.
O que ouves tu?
Com carinho,
Si